17 & 18 Agosto, das 12h as 19h

Três Sacadas – 13 Praça José Maria Lopes Falcão, Odemira

Instalação realizada por Louise Chardon
Esculturas, vídeos: Louise Chardon
Esculturas criadas a partir de terra crua, tecidos antigos, cera de abelha e fibra de linho



São figuras que parecem desaparecer, recolhidas sobre si mesmas, absorvidas em si mesmas, imperturbáveis e impenetráveis. Algumas têm a idade das rochas ou dos cristais; outras estão em plena transformação, lentamente, como uma cobra em muda, ou uma lagarta vibrante, pulsante tornando-se crisálida, estados de morte e renascimento intermináveis e insondáveis.
Essas figuras são matéria em evolução, crescendo na escuridão, parecem ter nascido de um espaço desconhecido, de um tempo em suspenso, surgidas de um suspiro, de um grito ou de um silêncio estranho. Elas são as habitantes intemporais e temporárias do espaço esventrado da casa nua. Luk Van den Dries


Minhas Fêmeas Obscuras
“Elas nascem do meu ventre, de uma vibração profunda, um vínculo profundo com a terra, com a minha terra… uma essencialidade primordial, uma reminiscência do meu arcaísmo subconsciente afetivo, como uma reemergência do sabor de vida das minhas bonecas de infância. Elas nascem numa expiração, engendradas por um abandono. Elas são a expressão de um recolhimento, de uma queda lenta, de uma extrema lentidão… minhas fêmeas em queda… minhas mulheres obscuras, como a mulher obscura Xuannü, uma das principais personagens da mitologia taoísta. Elas são para mim viagens antroposóficas, embriológicas, ou filogenéticas das camadas sutis da minha própria existência. Elas se formam de memórias táteis, sensoriais, de objetos rituais como os lençóis da minha avó, a cera ou o linho das minhas etapas criativas anteriores, tudo selado por uma lama mágica, a argila que eu recolho sob meus pés, na minha terra de vida, como sedimentos em movimento, em lembrança. Recolhidas sobre si mesmas, elas se afirmam enquanto se dissimulam, como por pudor de sua potência. Elas repousam num espaço fora do tempo, fora de um lugar, sozinhas e isoladas em seu simples estado de ser… algumas ainda estão no estado de larvas, outras envoltas em sua forma embrionária, outras em gestação na sua crisálida, outras em muda, todas estão em um estado de contemplação profunda, totalmente absorvidas, imperturbáveis, impenetráveis, e dedicadas a si mesmas, dedicadas a ser.” Louise Chardon


Louise Chardon dedicou a sua vida à dança e ao estudo do movimento. Formada pelo Conservatório de Paris, desenvolveu-se primeiro como bailarina em companhias internacionais, depois com coreógrafos independentes.

Em 2007, embarcou no seu próprio processo criativo. Com Luk Van den Dries, ela fundou o AndWhatBeside(s)Death e o CarWash Theater, uma plataforma e um local de desenvolvimento para as artes cênicas em Antuérpia, Bélgica. Juntos, criam vários projetos performativos: Ay¨n, Sensorama, I-lessness, Lab-Project, Vortex, Fenestra Ovalis, W∞M, Clair-Obscur.

Paralelamente, Louise frequentou por quatro anos consecutivos os cursos de arte na Academia de Belas Artes de Antuérpia (Be).

Desenhar sempre acompanhou a sua vida, como uma prática intuitiva e catártica, sua abordagem sendo mais cinestésica do que visual. Seus desenhos, assim como suas esculturas, são imersões táteis nas profundezas do corpo, do seu corpo. Uma pesquisa e um estudo do invisível, do impalpável. Através da dança, do desenho, da escultura, da música, da realização de vídeos, ela incorpora, recentra e transcende, as dimensões singulares e comuns de um mesmo organismo, as expressões moduláveis de uma mesma existência, como os aspetos ou as verdades múltiplas, ou como os membros ou os atributos sensoriais que compõem uma mesma entidade.  

Por mais de 20 anos, Louise especializou-se no estudo das capacidades sensitivas profundas do ser e como o subconsciente se expressa através do movimento. Ela aplica principalmente a sua pesquisa à sua abordagem artística visual e performativa e a compartilha por meio da sua abordagem educacional e terapêutica.